vendredi, décembre 29, 2006

D'ici on voit ma vie avant toi

Vincent Delerm Voici la ville


Georges Perec e Vincent Delerm. Dois nomes que se cruzam com os meus dias. Cuja marca tende a ser cada vez mais perceptível, após cada texto, após mais uma faixa. Fragmentos de outras vidas, ainda assim, demasiado próximas. Que vivem dos mesmos silêncios, da mesma ironia, do mesmo passado. Não interessa realmente se este se encontra em Auxere ou em Rouen. A forma como o olham é a mesma. Distante e adormecido. Melancómicos... como eu.

« Existem mil maneiras de matar o tempo e nenhuma delas se parece uma com a outra (...),mil formas de nada esperar, mil jogos que podes inventar e abandonar logo de seguida. Tens muito a aprender, o muito que não se aprende: a solidão, a indiferença, a paciência, o silêncio. Deves desabituar-te de tudo: de saires com aqueles com quem há muito tempo saías, de tomares os teus cafés onde esses outros diariamente te esperavam, de caires na dolente cumplicidade daquelas amizades que somente sobrevivem, de rancores oportunistas e de ligações que se desfiam.
Estás só, e porque estás só, não deves olhar as horas, não deves contar os minutos. Deves apenas esquecer a esperança, a espera, o acreditar, a perseverança. Deixa-te levar, porque isso é o mais fácil. Evita os caminhos por onde passaste demasiadas vezes. Deixa que o tempo apague as faces, os números de telefone. as moradas, os sorrisos, as vozes. Esqueces-te que aprendeste um dia a esquecer. Que foste um dia forçado a esquecer.
»

George Perec in Un homme qui dort

jeudi, décembre 21, 2006

La Nouvelle scène française par Benjamin Biolay

Benjamin Biolay & Chiara Mastroianni La ballade du mois de Juin


Espero que estes dois nunca se separem. Como a cumplicidade que este 'Home' encerra, algumas coisas deveriam ser apenas intocáveis ...

dimanche, décembre 17, 2006

Na Lisboa que amanhece ...


Face a Modigliani, originally uploaded by Stuart Murdoch.

Sous un poster de Modigliani
J'étais passé pour prendre un thé
Et j'ai passé la nuit


Na Lisboa que amanhece, ruas estreitas e quebradas decalcam os nossos passos. Rarefeitos de cansaços, descemos por Alfama, entrelaçados na trama de parapeitos e canteiros, ombro a ombro, apertados. Lá em baixo o Tejo espreita as vidas de passagem; aqueles que já não reagem à sua presença, e na urgente indiferença dobram mais uma esquina, esperam em mais uma paragem.

Ignoram que aquela porta velha e rebatida esconde um pátio interior, sob um tecto multicor. Não sabem que haverá mais logo uma reposição de Bergman, na qual as legendas desaparecem, intermitentes, recordando-nos daqueles que julgamos ausentes. Será que Bergman sabe que os 39 degraus da Cinemateca são na realidade 38 ...

Na Lisboa que amanhece A cozinha de Manhufe surge torta e quebrada como as ruas de Alfama. O cubismo multiplica as dimensões, mas qual a real dimensão daquele Modigliani, da sua presença à distância de um passo. De traços curvos e de azul imenso ...

Perec, Georges Perec. Sand, Georges Sand. Camus, Albert Camus.
Seguimos as lombadas. Ficamos mais tempo do que esperávamos. Passeamo-los debaixo do braço pelas ruas já despidas. Só paramos à mesa de mais um café. De mais uma casa de chá.

Na Lisboa que amanhece olho a Graça pela janela e vejo passar o Kilas. Enquanto adormeço, no rés do chão, conspira com o Godinho. Ao fundo da rua, a Feira da Ladra fica enfim quieta e abandonada ...

Aqui não há maus da fita. Afinal, a Graça não é manhosa nem Lisboa é tão distante assim.

(Para a J. , por tudo ...)

dimanche, décembre 10, 2006

On ne dit plus Vivement Dimanche #4

Gruff Rhys Candylion


Desde Fuzzy logic, em 1996, que tenho seguido de perto os passos deste rapaz. A partir de Cardiff, na companhia dos seus Super Furry Animals, tem elaborado audaciosos planos para conquistar o mundo, a partir da manipulação labiríntica de melodias pop. Quase todos eles falharam, e não ultrapassaram a fiel militância de uns quantos, que daqui a 20 anos se sentirão enfim justiçados quando, olhando para trás, alguém descrever esta banda como uma referência da indie pop dos últimos 10 anos. O seu legado, ainda no presente e em construção, deve ser escutado com atenção. É recomendável e solarengo. Gruff, esse prepara-se para editar o seu segundo trabalho a solo. Gravado nas últimas semanas na paisagem rural galesa. Alimentado pelos albuns de Caetano Veloso. Momentos de alguma descontracção e de isolamento. No entanto as melodias pop estão lá, sem a grandiosidade que encontramos em Love kraft ... sim, mas vivendo de uma letargia contagiante ... a de uma tarde de sol de Domingo ... como em Candylion ... Vivement Dimanche!

mercredi, décembre 06, 2006

On ne dit plus Vivement Dimanche #3

Clap Your Hands Say Yeah Is this love?


« Now that everybody's here / Can we please have your attention ... »

Ao longo do ano de 2006 passei vezes sem conta pelas mesmas 11 faixas. Escutei-as em repeat no winamp. No Ipod enquanto me marcavam os passos. No carro ao ser conduzido por elas. Estranhamente, o meu entusiasmo por cada uma delas resistiu à ferrugem dos dias, que rapidamente corrói aquilo que escutamos, ditando a sua reciclagem contínua, a sua fulgurante ascensão e queda no esquecimento, em pouco mais de um mês. Tento fugir a esses fenómenos circunstanciais, aos hypes do momento, à necessidade por vezes recorrente de escutarmos algo por um estúpido sentimento de pertença a algo maior do que nós, a um fenómeno de massas " que está a passar por aí " e que, na maior parte das vezes, esgota-se num único concerto. Após este, a celebração colectiva dá lugar à calmia, e essa massa composta por pequenos grupos de seguidores (ou seguidistas), logo abre o jornal ávidos de mais uma nota acima do 8 ... logo olha para trás, para ver quem aí vem de seguida ...

« Let the cool goddess rust away ... rust away .. rust away ... »

Daí que até hoje nunca tenha escrito quaisquer linhas sobre estes rapazes, sobre o seu trabalho. Não por desconfiança. Mas de modo a fugir ao lugar comum. Os Clap Your Hands Say Yeah convenceram-me desde o início, e por isso quis preservá-los, afastá-los de qualquer hype, até porque a sua génese confunde-se com esses movimentos recorrentes. A partir de um pequeno apartamento nova-iorquino venderam milhares e milhares de albuns, ainda sem editora, tendo apenas como pano de fundo uma imensa teia de influências e de partilha, tecida diariamente nos blogs dedicados à indie pop. O rumor espalhou-se, mp3's foram partilhados e nasceram os Clap Your Hands Say Yeah!


« Success is so forbidding / But it makes me think I'm winning ... »

Felizmente, a voz de Alec Ounsworth, na sua viciante imperceptibilidade, é irritante para muita gente. O que desde logo abre uma trincheira demasiado funda para atrair uma desmesurada quantidade de seguidores. A sua capacidade traduz-se muito mais nas letras que escreve, crónicas de um presente bastante confuso, de uma realidade norte-americana imersa num turbilhão demasiado realista e caótico. Pequenos sublinhados de toda uma geração à deriva, sob melodias contagiantes, ao longo das quais aquela mesma voz irritante se estende, contorce e grita ... pequenos sublinhados de efervescência ... de desespero ... e ao mesmo tempo celebratórios ...


« Shout just let it on out / Confusion becomes a philosophy / Down we're reaching the town where we don't have to stand around and look over our shoulders ... »

Ontem escutei pela primeira vez três faixas do trabalho que se segue, Some Loud Thunder, a ser editado nas primeiras semanas de 2007.

Talvez perto de 2008 volte a escrever sobre eles ...

Clap your hands! When I feel so lonely
Clap your hands! When I won't do nothing
Clap your hands! When I have no money
Clap your hands! When it don't seem likely
Clap your hands! Are you up to something?
Clap your hands! Where's my milk and honey?
Clap your hands! When I just look funny
Clap your hands! I just wait, a while ...