samedi, avril 12, 2008

Le regard du narrateur



The Dodos
Fools
Director/Editor: Matt Amato

Pergunto-me como um projecto tão estanque nas suas fronteiras se pode mostrar tão contagiante, revelando uma tal capacidade para nos contorcer, coagindo-nos a mecânicos movimentos que, apenas por embaraço, não são mais que indiferentes e imperceptíveis para quem ao nosso lado segue viagem, também ela imersa no que o seu iPod esconde. A compulsiva necessidade de batermos com as solas no chão à medida que a percussão de Logan Kroeber dá lugar à voz de Meric Long, logo nos primeiros instantes de Fools, revela-me que aquele outro iPod não esconde os The Dodos. Mas será que nesta carruagem alguém os escuta? Apenas algumas conversas interrompem o cúmplice silêncio dos passageiros à minha volta. Ninguém denuncia Ashley num disfarçado olhar melancólico, ninguém se permite bater com o indicador na dura capa de um livro ao som de Jodi. Apenas o ritmo do próprio comboio parece uma extensão daquele outro que encontramos na bateria de Kroeber as passarmos por The season. É uma longa viagem a de Visiter. Não uma jornada espiritual como num filme de Wes Anderson. Este comboio não ostenta cores e especiarias. Vive de sobressaltos e do repentismo de dois autores, que encontraram na estrada a intensidade que mais tarde carrearam para o estúdio. Ao longo do caminho a voz de Meric surge próxima e autêntica, denunciando um passado distante que permanece ancorado na sua memória. Existe algo de tremendamente honesto nas suas vocalizações, que nos embalam e de imediato nos agitam. Um passado contido e irrequieto. Algo que tentamos reprimir como os movimentos que nos assaltam. Imperceptíveis aos restantes olhos que se fixam na chegada...